08/02/2015

A Saúde não Mente: (Re)Começar positivamente

As áreas científicas têm origem sustentadas e fundamentadas em correntes teóricas sejam elas mais antigas, mais tradicionalistas, mais contemporâneas, ou até idealistas. Porém todas elas se vão desenvolvendo, atualizando ou mesmo desdobrando em novas correntes. Assim acontece na área da Psicologia, pelo que ao longo da sua história foi assumindo a necessidade de dar origem a novas abordagens e perspectivas de compreensão e intervenção no comportamento humano. Entre outras, surgiu em finais dos anos 90 um novo movimento fundado por Martin Seligman, Presidente da American Psychological Association na época, designado de Psicologia Positiva. Este movimento preconizou uma nova visão do Ser Humano enfatizando aspectos como a motivação e os potenciais, ao invés de uma focalização excessiva e restrita à compreensão e tratamento de psicopatologias. Com o virar de século a Psicologia Positiva alcançou o seu lugar dando um “olhar salutogénico” a uma psicologia até então focalizada na depressão, ansiedade, angústia e agressividade, substituindo o viés negativo por fenómenos psicológicos positivos ressaltando as capacidades e o potencial Humano como o otimismo, altruísmo, esperança, satisfação, felicidade e resiliência.
A evolução célere que decorreu no último século trouxe consigo a alienação, a industrialização despoletou níveis elevados de stresse, a individualização resultou em solidão, a globalização fomentou a perda de identidade e tudo isto resultou em crise. Porém, as crises são, também, oportunidades de mudança e procura de novas oportunidades, para tal impõe-se que hoje sejamos cada vez mais resilientes e positivamente humanos.
Acabámos de entrar num novo ano, o que implica uma reorganização da vida, estabelecendo novos objectivos, planos e projetos. Estes não se devem restringir a mudanças nos hábitos de vida, tão próprios desta fase do ano, como iniciar uma nova dieta, retomar a prática regular de actividade física, iniciar uma nova formação, melhorar competências, entre outros. Do ponto de vista psicológico urge que nos focalizemos na promoção de emoções positivas tais como a alegria, o amor, a serenidade; que desenvolvamos uma atitude proactiva, o que implica um maior envolvimento e dedicação priorizando o autoconhecimento, isto é quem somos, o que queremos e o que fazemos por nós e pelos outros. É importante pois que nos tornemos Seres Humanos mais positivos e positivamente mais humanos.
Neste sentido, paralelamente a todos os votos e planos para o novo ano, é importante a adoção de um comportamento pautado por um agrupado de atitudes e acções que têm caído em desuso, no entanto fundamentais para a preservação dos Valores. Essas acções podem integrar o hábito de fazer uma lista de motivos de gratidão ou mesmo agradecer a quem nos sentimos gratos; praticar o perdão; sorrir mais; sonhar, planear e concretizar objetivos realistas; fazer uma lista dos atos de bondade que praticamos, a chamada “boa ação do dia”; adotar uma atitude de preservação da natureza em prol da sustentabilidade do planeta; escolher e saborear cuidadosa, intensiva e criativamente aquilo que comemos; o mesmo aplicar ao que vestimos e ao espaço onde vivemos; integrarmos nas nossas empresas, organizações e instituições indivíduos, e mesmo líderes, que invistam na virtuosidade, isto é que potenciem o desenvolvimento de sentimentos como a generosidade, gratidão, compaixão, perdão, altruísmo e optimismo.
Se a crise económica é uma realidade, também real é a crise na saúde emocional e esta não tem necessariamente que estar associada à crise económica. Existem pessoas que vivem com fracos recursos económicos e, no entanto, evidenciam níveis de resiliência suficientes para lidarem com o stresse que resulta dessas mesmas vivências, focalizando-se em motivos positivos que ainda assim se sobrepõem às dificuldades e constituem a razão da sua felicidade.
Presentemente o bem-estar e a felicidade na nossa sociedade não devem, nem têm necessariamente de andar “de mãos dadas” com a condição económica. Estudos indicam que aqueles que ganham mais ou melhoraram as suas condições económicas, não aumentaram concomitantemente e significativamente o nível de satisfação com a vida. Este dado pode ser justificado pelo facto de paralelamente ao aumento da condição económica se ter verificado um aumento dos níveis de ansiedade e depressão.
Vivemos num mundo de constante transformação face à qual temos que estar aptos, o que requer que também nós nos transformemos a cada dia. Para tal, devemos integrar no nosso dia-a-dia o treino mental em prol de um bem-estar geral. Treinemos o nosso optimismo, positivismo, resiliência, amor e felicidade. O bem-estar de cada um não é uma utopia, é uma meta passível de alcançar, desde que sejam trabalhados e incorporados domínios como a autoaceitação; o estabelecimento de relações positivas com os outros; a autonomia; o controlo do ambiente, o propósito de vida e o crescimento pessoal contínuo.
Um bom ano a todos os leitores!

“ A vida é a hesitação entre uma exclamação e uma interrogação. Na dúvida, há um ponto final.”
Fernando Pessoa, Livro do Desassossego

No caso de dúvidas ou sugestões contacte a equipa através do correio eletrónico: saúde.nao.mente@gmail.com

Fontes: http://diarioatual.com/?p=200250&ec3_listing=disable

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