20/01/2015

Ferramenta de Leitura do Mundo


Viviane Mosé, é a filósofa brasileira mais pop da atualidade

As ideias de filósofos como Sócrates, Locke, Hegel e Nietzsche estão mais próximas do cotidiano do que se pode imaginar. Antigas, mas nada antiquadas, elas têm o poder de suplantar as páginas dos livros para dialogar com a pós-modernidade. Mesmo que não pareça, as palavras dos grandes pensadores da humanidade têm muito a dizer para o atual tempo de crise, é o que garante Viviane Mosé, a filósofa brasileira mais pop da atualidade. 

Viviane, que no ano passado participou em Rio Preto da "Feira do Verbo", evento promovido pela escola "Maria Peregrina", é psicóloga e psicanalista, formada pela Universidade Federal do Espírito Santo e doutora em Filosofia pelo Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Viviane é conhecida por "traduzir" a linguagem filosófica para as massas. Professora há mais de 30 anos, atualmente, investe na área da Educação. 

A filósofa - que começou a ganhar projeção com o quadro "Ser ou não Ser", exibido pelo "Fantástico", da Rede Globo, em meados dos anos 2000 - afirma que, nesta época em que vivemos, marcada por incertezas, a humanidade se depara com um dos maiores desafios de sua história: a fragmentação. "A gente desagregou tanto no século 20 que tudo o que no século 21 chama para reunir ganha poder, ganha valor", afirma. Para Viviane, a Filosofia tem o poder de responder às dúvidas e mostrar novos caminhos a serem trilhados. "Quando a gente não tem certezas, é a melhor época para a Filosofia", afirma. 

Em sua obra mais recente, "A escola e os desafios contemporâneos", Viviane reúne uma coleção de entrevistas com educadores que refletem quais caminhos a educação precisa seguir neste tempo. Para ela, a fragmentação, vivida no ensino e na vida cotidiana, deixará de existir, cedendo espaço para quem reúne pessoas em torno de ideias. "Estamos saindo de uma sociedade que fragmentou para uma sociedade que chamo de 'sociedade da colaboração', que desesperadamente precisa se unir, para dar conta do desafio ambiental, por exemplo." Em entrevista ao Diário, Viviane fala de sua carreira, de Filosofia e sobre as perspectivas para a educação no mundo contemporâneo. 


Diário da Região - Como nasceu seu interesse pela Filosofia? 

Viviane Mosé - Eu descobri a Filosofia, objetivamente, quando descobri a palavra "Filosofia": eu nunca tinha ouvido falar disso quando era criança. Quando entrei na Universidade, foi a primeira vez que ouvi e, por sorte, a minha primeira aula foi de Introdução à Filosofia. Lembro que era um professor muito interessante, porque ele usava uma tamanca e tinha um cabelo todo cacheado, grande, o ano era 1981, era uma coisa meio hippie. 

Eu gostei muito deste professor e me tornei monitora dele nos cinco anos do meu curso de Psicologia. Então, eu fiz o curso de Psicologia voltado todo para a Filosofia por causa daquele primeiro dia de aula. Eu fiz vestibular, e passei, com 16 anos, eu era uma criança; quando eu vi aquele professor, daquele jeito, eu pensei é isso que eu quero, mas eu não sabia que a Filosofia poderia ser uma coisa objetiva pra mim. 

Como eu era muito nova, eu estava na Universidade para aprender, não para trabalhar, eu nunca pensei em ter consultório, ter dinheiro: eu tinha um interesse específico por aprender. Deste modo, a Filosofia veio como uma ferramenta para mim; para eu viver, entender o mundo e muitos anos depois eu descobri que isso poderia me sustentar, porque eu vivo hoje disso, mas eu não estudei Filosofia com a mínima intenção de viver disso. 

Diário - Atualmente, parece que as pessoas estão mais interessadas na Filosofia. Por quê? 

Viviane - Sem dúvida. Porque a Filosofia é boa quando há crise de valores, quando há conflitos, quando há destruições, quando a gente duvida da gente mesmo. Quando a gente não tem certezas, é a melhor época para a Filosofia. A gente vive um momento de mudança de mídias, isto é, uma mudança estrutural no ser humano, porque uma mídia, por qualquer que seja, faz uma ponte entre o ser humano e o mundo, entre o que ele sente e o modo como ele se coloca, sua expressão no mundo. Se as mídias mudam, também muda o ser humano, na sua estrutura. 

Então a gente vive uma mudança da cognição, dos afetos, ou melhor, da manifestação como esse afeto se coloca, uma mudança nas relações humanas, sociais, econômicas e ambientais. Diante de tudo isso, os valores mudam. Quem pode trabalhar neste momento de caos, quem se privilegia do caos? A Filosofia. Talvez alguém diga que é uma moda; não é uma moda. Se fosse moda, já teria passado. No final do século 20, a Filosofia já estava na moda, nós estamos em 2015 e nada disso acabou. A Filosofia é uma ferramenta de leitura do mundo, especialmente quando é um mundo confuso e em transformação. 

Diário - É um momento de repensar o "humano"? 

Viviane - Exatamente. Por que o que é a Filosofia, na verdade? A Filosofia é o pensamento que pensa o pensamento. O objetivo da Filosofia é elaborar o próprio pensamento, fazer que o nosso pensamento seja mais amplo, mais múltiplo, mais diversificado, que a gente ganhe contornos mentais, contornos de alma mais amplos. A Filosofia é essa divagação ou esse pensamento, essa reflexão sobre o mundo, sobre si mesmo, e isso combina com crise. 

Diário - Você também é conhecida pelo quadro "Ser ou não ser", que o "Fantástico" exibiu em 2005, levando a Filosofia para as massas. Como foi a experiência de sair do campo da epistemologia para o senso comum? 

Viviane - Foi um grande desafio, eu acho que pouca gente teria aceitado. Não foi eu quem propus o quadro, foi a Rede Globo quem me propôs, porque eu era uma professora que dava aula para um público variado, por isso me convidaram. Eu tinha, naquele momento, uma carreira acadêmica muito estruturada para ser professora da Universidade, já tinha terminando o doutorado, eu tinha uma careira. Eu sempre gostei muito de academia, de educação. 

Quando eu fiz isso, eu me lembro que um repórter perguntou se eu não teria medo de arruinar minha carreira. Era realmente um risco muito grande, eu poderia ter virado uma piada nacional de como fazer Filosofia na televisão. Porém, pelo contrário, a gente teve um sucesso inacreditável de público, a nossa audiência subia cinco pontos quando a gente entrava, éramos líderes de audiência. Tivemos um sucesso de público muito grande porque não havia rejeição dos antigos e a gente tinha adesão dos novos. 

Atraímos um novo público de estudantes, de professores e o público antigo não se incomodava, até gostava. Era uma coisa incrível: eu andava na rua e quem falava comigo eram os porteiros dos prédios que vinham me elogiar pelo programa, as atendentes de lojas, dos balcões de empresas aéreas. Raramente vinha um estudante universitário falar comigo. Eu vi que a gente conseguiu atingir o que a gente queria: que era provocar a Filosofia, ou algo próximo disso, na população brasileira mais simples. 

Diário - Como os primeiros filósofos faziam, levar as pessoas a raciocinar, certo? 

Viviane - Você não tem ideia. Até hoje, recebo mensagens inacreditáveis de pessoas de 40 anos que estão terminando de se formar em Filosofia, pessoas que não tinham feito faculdade, mas fizeram por causa do programa. Pessoas que hoje são professores de Filosofia que me dizem: "Fiz Filosofia por causa do seu programa." É um barato, é um retorno muito legal. 

Diário - Qual foi seu objetivo ao escrever seu livro "A escola e os desafios contemporâneos"? 

Viviane - Na verdade, quando eu fiz o "Fantástico", tudo veio na sequência. Eu fiquei três anos no Fantástico. No primeiro ano, fiz os filósofos: Platão, Sócrates... No segundo ano, eram temas: poder, sociedade, exclusão... No terceiro ano, no começo do ano, eu já estava contratada, eu falei em fazer um tema só: educação. Assim, fiz oito programas para irem ao ar no "Fantástico", mas aquele foi um ano em que o programa estava em crise com ele mesmo, de mudança de direção, e eles resolveram não continuar; então, os quadros foram exibidos no canal Futura. 

Eu fiquei um ano visitando as melhores escolas, entrevistando os melhores educadores, para um quadro que acabou nem indo ao ar na Globo. Eu fiquei com aquele material que foi praticamente um pós-doutorado, que a Globo me pagou para fazer; até me levou para Portugal e marcava as entrevistas com os educadores. Um dia, eu vi que tinha as entrevistas e um tema novo, que não existia naquela época: os desafios contemporâneos. 

Fiz o livro sem nenhuma pretensão, mas o efeito dele foi inacreditável. Foi indicado ao prêmio Jabuti e vou a muitas escolas que utilizam o livro como referência no projeto pedagógico. Penso que ele tem essa leveza da entrevista, ele corre o risco de falar do presente. A gente só fala do passado, especialmente na academia. Ali eu faço uma análise arriscadíssima do contemporâneo. Isso, pra mim, filosoficamente, foi um passo muito bacana. 

Diário - Nos "Sete saberes", Edgard Morin fala que o ensino está fragmentado, o que impediria a capacidade natural do aluno em se contextualizar. Como, hoje, podemos oferecer um ensino complexo e integrado para alunos que procedem de uma realidade, até mesmo familiar, fragmentada? 

Viviane - O mundo todo está fragmentado: este é o mal do século 20, que é a linha de montagem. Na verdade, ela é do século 19, que é pegar uma produção e dividir em muitos pedaços, para aumentar a produtividade. Na década de 1950, havia um grande índice de analfabetos, mais de 50% da população daquela época nunca tinha pisado em uma escola, isso é um fato que nem todo mundo sabe. Para colocar pessoas para trabalhar na indústria, a gente precisava rapidamente produzir pessoas com capacidade de ler, escrever e contar, não necessariamente pensar. 

Fizemos escolas fragmentadas no Brasil todo, o modelo disciplinar é fragmentado, porque combinava com a realidade daquela época. Quanto mais fragmentado, quanto mais especialista, melhor. Chegamos em um ponto que na medicina, por exemplo, o indivíduo é especialista do especialista do especialista: o cara é especializado em um poro, ou quase isso. Acontece que, de lá pra cá, muita coisa mudou: o capitalismo não é mais aquele que vende produtos, é um capitalismo que vende conceitos. Com o produto, quanto maior a quantidade vendida, maior o ganho, mas o mercado consumidor está esgotado deste modelo. 

Não adianta mais produzir em grande quantidade para poder ter lucro, porque não tem quem compra, repito: o mercado está esgotado. Vou te dar um exemplo: se você tem uma geladeira, que refrigera e congela - que é só o que ela pode fazer por você - e ela está funcionando, então você a troca só porque a outra é de inox. Você não comprou uma geladeira nova, mas sim pagou uns R$ 4 mil pelo inox, afinal, a geladeira você tinha. O cara que teve a ideia de colocar inox na geladeira é quem criou o valor, neste caso, você compra só o inox. A gente está em um ponto que cada vez mais estamos voltados para o valor, a internet é exatamente isso. 

Como a internet funciona? Por imagem e conceito, ela não tem corpo. Nossa cultura está caminhando por um espaço de signos, de imagem e de valor. Nesta sociedade do conhecimento, o maior valor é pensar, e isso envolve articular um todo. Estamos saindo de uma sociedade que fragmentou para uma sociedade que chamo de "sociedade da colaboração", que desesperadamente precisa se unir para dar conta do desafio ambiental, por exemplo. E precisa mesmo, a água está sumindo e as pessoas precisam se unir para não morrer; hoje, a gente tem que se unir literalmente. 

Essa necessidade de se unir, que o século 21 está criando, é totalmente contrária a da fragmentação do século 20. A tendência é que todas as escolas, todos os modelos de gestão, todas as relações familiares se encaminhem para a colaboração: não vai ter problema este processo, ele vai acontecer. Quem vale mais hoje? Antigamente, valia o cara que tinha um Q.I. (quem indica), era o filho do prefeito, a mulher que era linda, era isso que valia. Hoje, vale quem reúne em torno de si 2 milhões de curtidas, não é isso? 

Esse cara, que vende produto, é chamado para os lugares e tem 2 milhões de curtidas porque o filho dele tem uma risada impressionante. Onde está o poder hoje? Ninguém sabe. Não tenho dúvida. Está em torno de quem agrega pessoas em torno de si, por causa de um riso, por causa de uma cena, por causa de uma inteligência, por causa de um mico. Isso quer dizer que a gente se fragmentou tanto por causa da sociedade passada que, hoje, todo mundo que organiza pessoas em torno de si ganha poder. É isso que a gente chama de sociedade da colaboração. 

Diário - Às vezes, ficamos tão fragmentados, e a escola preparava os indivíduos para aquela indústria, da época da Revolução Industrial, mas estamos na era pós-industrial. 

Viviane - É exatamente isso. As atribuições, as competências que são exigidas hoje de nós, nesta sociedade, são opostas às anteriores. Eu não tenho dúvida que a escola vai sair da fragmentação não porque vai ter um educador, um prefeito ou um presidente. Nós necessariamente vamos produzir uma escola que agrega. Nas empresas, hoje, ganha um maior salário quem é capaz de agregar. Antigamente, o líder era quem mandava, hoje é quem estimula. A gente desagregou tanto no século 20 que tudo o que no século 21 chama para reunir ganha poder, ganha valor. 

Diário - A educação, na pós-modernidade, deve mostrar ao indivíduo as várias possibilidades latentes que este possui para estimular as aptidões pessoais? 

Viviane - Isso mesmo. Antes, quando você se formava em medicina, você precisava ser um médico formado na USP, por exemplo, aí estava tudo certo. Hoje, você deve ser um médico com um jeito especial de lidar com o paciente, isto que é o contemporâneo, o oposto do século 20. Quanto mais do seu modo pessoal de lidar com as coisas aparece no seu trabalho, melhor pra você. Nós vivemos no século da diferença. No século passado, todo mundo queria igualdade, lembra? Todo mundo queria igualdade, o comunismo lutava para a igualdade. 

Qual o grande lema do século 21? Valorização da diferença: dos homossexuais, das crianças, das mulheres, de quem não tinha direitos. Confio muito no processo que vivemos, estamos caminhando para uma sociedade mais ética e justa. Porém, as mídias estão na frente dos nossos valores, elas que nos fazem agregar. As mídias, em si, como estrutura, não como um valor, mas como um suporte: a internet que agrega todos. Este novo suporte em rede nos levou pra rua, foram 2 milhões de pessoas no ano passado. No entanto, a gente foi (às ruas) sem valor, sem conhecimento, sem direção e voltamos pra casa sem nada, pra você ver como as mídias estão na nossa frente. 

Aquilo foi um fenômeno de mídia, ou seja, um vírus. Aquilo foi um efeito viral: um falou, outro falou e como envolvia não apenas compartilhar, mas ir à rua, todo mundo foi. As mídias são capazes de levar pra rua 2 milhões de pessoas, mas a gente tem que aprender agora a ir pra rua pensando. As mídias agregam enquanto a gente ainda afasta. Por exemplo: as mídias nos mostram em um espelho e o que nós vemos hoje? Que nós somos pedófilos, fascistas, machistas e preconceituosos. A participação do ser humano na internet hoje está mostrando como ele está retrógrado. O que é bom nisso? Quando uma moça fica xingando um jogador de macaco, por exemplo. Por que ela não vai xingar ninguém de macaco na vida dela? 

Porque tinha uma câmera e essa câmera filmou. Essa menina, exposta na internet, da forma como ficou, vale mais como penalidade do que dez anos de cadeia. Nós estamos começando a ter no mundo um equilíbrio natural, uma combinação de forças que acontece não porque o prefeito mandou ou porque o juiz fez uma lei, mas porque nós estamos nos expondo nas mídias. Ao expor, a gente vê o nosso pior e o nosso melhor, e essa coisa vai dando um reequilíbrio. Penso que aquele fenômeno da menina, naquele campo, xingando foi mais benéfico contra o racismo do que qualquer lei que a gente tenha feito. 

Diário - Vemos hoje muitas crianças conectadas o tempo todo, talvez sabendo algo a mais até do que o professor. Neste novo tempo, os professores deixariam de ser os detentores do conhecimento para se tornarem mediadores? 

Viviane - Nós chamamos o professor de gestor de sala de aula, porque, na verdade, o professor faz a combinação e o compartilhamento de conteúdos. Se esse professor, no século 21, quiser se sustentar só com conteúdos, ele está perdido. O professor não tem condição de competir com os alunos, nem do ensino infantil. Tenho uma história de uma vez que fui a um evento de Educação Infantil e falava que os professores têm que inserir o mundo na aula e levar a natureza para aula, levar os alunos para fora da sala. Voltando ao mesmo evento, no ano seguinte, uma professora me contou: "Fiz o que a senhora disse e inseri a natureza na aula. 

Você não sabe o que aconteceu. Estava dando aula, entrou um bichinho pela janela, chamei as crianças para verem aquela borboletinha e uma criança de cinco anos falou que eu estava errada, que aquilo era uma libélula. Aquela criança falou tudo sobre as libélulas e fiquei com a cara no chão." Depois eu disse para a professora que, naquele dia, quem daria a aula seria a criança. O professor tem que ter essa modéstia, e isso não o diminui em nada. Aquela menina que sabe de libélula, só sabe daquilo; na aula que vem, ela não sabe mais nada, o professor volta a ser o que é. 

O professor não é professor pelo conteúdo, ele é professor pela atitude educadora, pelo modo como ele se relaciona. Um educador não é quem sabe tudo, é quem se interessa por tudo. Hoje, o professor não ensina, ele provoca e acompanha esse conhecimento ajudando em métodos de pesquisa, em seleção de fontes, em análise de conteúdo, mas ele acompanha esse aluno. O professor não tem que saber cem por cento aquilo e não tem de sofrer com isto, por não saber. 

Diário - É uma volta às raízes socráticas da Filosofia, o professor é o mediador que vai ajudando o aluno a encontrar o conhecimento. 

Viviane - Exatamente. Nós, na verdade, perdemos um pouco o bonde deste processo do conhecimento e estamos retornando pra ele. Conhecer não é repetir o que o outro disse; hoje a gente se reduziu a isso, principalmente na universidade. O maior problema da educação brasileira chama-se universidade. A mais velha, a mais arcaica, a mais abstrata, a mais isolada da sociedade é a universidade. Quem está crescendo significativamente no Brasil é o ensino básico. O ensino fundamental tem crescido todo o ano, ele sempre melhora. 

Eu vejo isso, eu fui a todos os estados brasileiros, toda semana vou a dois ou três municípios, em toda parte do País. Enquanto o ensino básico cresce, a Universidade não se revê. Por que o ensino básico está crescendo? Porque todo mundo critica, mas ninguém critica a Universidade. Ela é responsável pelos fracassos do ensino básico, porque ela forma professores, e forma muito mal. 

Ela também é responsável pelos maus médicos que nós temos, pelos maus juízes. Nós vivemos um problema social grave de formação, a formação brasileira é péssima, especialmente particular. A gente acha que o problema é público, não é. As escolas particulares são muitos ruins, as universidades também. A USP, por exemplo, é uma ótima Universidade, mas o grande foco da USP é pós-graduação. O investimento desta Universidade é de pesquisa; graduação ninguém dá a mínima, nós formamos péssimos profissionais. 

Diário - É o momento de repensar também a universidade? 

Viviane - Eu penso que se a gente não repensar a universidade com muita coragem, a gente não dá um passo. Ninguém está pensando, especialmente a pública; as particulares estão se repensando, porque, como elas são mais fracas, elas também se veem no olho do furacão. Agora, a universidade pública é arrogante, repete os mesmos jargões. Para educação é um inferno. Os cursos de educação ficam repetindo teorias extremamente antigas e ninguém ali tem noção do que é uma sala de aula. Isso é um problema para a educação. Quer ver um professor ficar ruim, mande-o fazer pós-graduação, ele piora muito. 

Diário - O que há mais na internet: informação dispersa ou conhecimento? 

Viviane - Há conhecimento, claro; e as redes sociais? Sabia que o professor Nicoleris - um cientista brasileiro de ponta, criador do exoesqueleto capaz de ler o cérebro - trabalha em tempo real com centros do mundo todo? Pessoas que não são cientistas e conseguem acessar este conteúdo têm acesso a maior ciência feita no mundo. Se você souber ler e não for analfabeto: ser alfabetizado é ler em camadas, é ler mesmo, saber pesquisar, selecionar fontes. Se soubermos realmente ler, pensar e interpretar a gente tem acesso a qualquer conteúdo, em tempo real, produzindo conhecimento. Hoje todo trabalho feito em ciência está disponível na internet. 

Diário - Em alguns casos, a internet poderia ser uma faca de dois gumes? 

Viviane - Ela é sempre benéfica, o problema são as pessoas que a usam. Veja só o Facebook, o que a internet fez? Não te deu o mundo? O que é o Facebook? Seus amigos. Isso quer dizer: eu tenho o mundo, mas eu leio o mundo pelos meus amigos. Isso é uma coisa ridícula. Então, o problema não é a Internet, é o uso dela. O Facebook é um dos modos de uso, é uma ferramenta. Se você esquece o Facebook e, de uma página, vai para outras, você me dê o tema que você quiser e mais vinte minutos que me torno doutora nele. 


Fontes: http://www.diarioweb.com.br/novoportal/Noticias/Educacao/229421,,Ferramenta+de+Leitura+do+Mundo.aspx

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