08/03/2015

O Desporto como Potenciador e Legitimador da Agressividade

O desporto é uma das definições de competição. O objetivo do desporto é, normalmente, o confronto entre duas partes com o objetivo de ultrapassar, de vencer, de ser/mostrar-se melhor. Existe quase que uma necessidade de se afirmar superior em relação ao outro. É devido a estes aspetos que o desporto promove enormemente a competição. Porém, uma competição saudável é perfeitamente viável, na medida em que ambas as partes se divertem e se respeitam mutuamente, apesar de serem adversários. Os problemas começam quando a competição leva à raiva, ao ódio, caso que, nos dias de hoje, ocorre praticamente sempre.

Quantas vezes vemos os jogadores a dizer palavrões durante um jogo de futebol? Quantas vezes os jogos de hockey terminam em violência? É simples: a cólera que os jogadores não conseguem reprimir é libertada e gera violência, agressividade. Esta agressividade tanto se pode expressar fisicamente como verbalmente (agressão aberta), sendo, de ambas as maneiras, uma forma de violentar o próximo; para além disso, sendo esta uma agressividade hostil (com o simples objetivo de causar danos ao outro) ou uma agressividade instrumental (que visa atingir um determinado objetivo, como por exemplo, num jogo de futebol, ganhar a posse de bola), é, de qualquer das maneiras, uma ação errada que tem por base rebaixar e agredir o próximo.

Se pensarmos bem, a possibilidade para a agressividade está sempre presente no desporto: quer se ganhe, quer se perca, alguma das partes sempre irá sentir estes sentimentos negativos (frustração, ódio). Se estas emoções não forem controladas (o que atualmente acontece vezes de mais), a agressividade manifestar-se-á. E ainda para somar, o desrespeito de uns jogadores para com os outros, as provocações que voam de um lado para o outro, levam também à agressão, pelo mesmo motivo já mencionado.

Assim, percebemos que a competição que o desporto promove leva constantemente a estas emoções que, sendo difíceis de acalmar, geram agressividade. Podemos assim concluir que o desporto, quer aceitemos ou não, é um grande potenciador da agressividade. Naturalmente isto não é o mesmo que dizer que o desporto é uma forma de agressividade; não é, também, uma crítica ao desporto em si: a agressividade surge do Homem. É o Homem aquele que deve ser responsabilizado pela violência que existe no mundo. Claramente, os fatores externos e as vivências têm também influência na agressividade, porém cabe ao Homem ter o controlo das suas emoções e agir de uma forma responsável, de forma a promover um mundo pacífico, que não tem de sofrer com as suas reações violentas. É necessário que os atletas tomem consciência de que o desporto não é um instrumento de violência, mas sim de entretenimento; é necessário que todos percebam que a agressividade no desporto não devia ser vista como algo normal mas sim como algo errado e que deve ser combatido. Está nas mãos dos atletas (e das várias entidades que os influenciam) parar de “estragar” o desporto com tais reações bárbaras, domando o animal dentro deles e respeitando os outros em todos os momentos.

Sabendo agora que o desporto é um autêntico gerador de violência, vamos analisar uma outra sua caraterística: o facto de o desporto realmente permitir a agressividade. Podemos observar isto principalmente nos desportos de combate, porém isto também ocorre em muitos outros desportos, mesmo naqueles em que o contacto físico não é suposto ocorrer, como por exemplo o hockey e o futebol, como já referi anteriormente. Aqui, uma das dificuldades reside no estabelecimento de limites: num desporto de combate, por exemplo, qual o limite que separa o desporto saudável da violência? Esta é uma questão pertinente mas, ao mesmo tempo, paradoxal: este tipo de desporto tem como base a violência pura. Está nas mãos dos atletas perceber que o objetivo da modalidade é o entusiasmo, o divertimento, e não a agressão ao adversário como se este fosse realmente um inimigo; porém este tipo de dúvidas e problemas que surgem relacionadas com os desportos de combate são perfeitamente compreensíveis, dada a natureza do desporto. Os problemas começam quando a agressividade é permitida em modalidades em que não seria suposto existir violência; nestes casos, os jogadores agridem-se uns aos outros, sem que sejam submetidos a qualquer tipo de castigo significativo. Enquanto que na sociedade a violência é castigada por lei (a partir de certo ponto), nestes tipos de desporto esta é permitida/tolerada sem que os responsáveis sejam levados à justiça, como realmente deveria acontecer; desportos como o basebol, o rugby, o basquetebol e o hockey no gelo são exemplo de modalidades onde, existindo muita agressão (a qual não faz parte do desporto em si, tal como nos desportos de combate), esta é deixada passar praticamente impune.

Percebemos assim que, atualmente, ou algo não está bem com as regulações das modalidades, ou algo não está bem com o bom senso das pessoas; parece que, saindo do contexto da sociedade e entrando no espírito do desporto, dá-se uma transformação nas pessoas, levando-as a tolerar e quase que apoiar a violência. Enquanto que a violência doméstica é punível por lei, as lutas que ocorrem entre os jogadores de hockey no gelo, por exemplo, não têm sequer a mínima importância para as pessoas. Existem até espetadores que referem que a principal razão pela qual assistem determinada partida é o facto de saberem que a rivalidade entre as duas equipas que se confrontam é “pesada” o suficiente para gerar enormes desentendimentos e, com certeza, violência.

Obviamente, isto não é correto. É necessário tomar medidas que possam corrigir esta falta de interesse e preocupação com a violência no desporto; nada invalida que determinado atleta com atitudes agressivas no que toca a determinado desporto não vá levar essa agressividade para as ruas e até para a sua própria casa. Neste caso, as consequências seriam ainda piores: para além de essa pessoa violentar outros no que toca ao desporto, iria também agredir outras pessoas (violência doméstica por exemplo) noutras situações, uma vez que para ele, a agressividade não é nada de novo, nem algo que este costuma ser inibido de praticar. Isto acontece pois pessoas agressivas têm uma menor capacidade de se controlar, ao contrário das pessoas normais; pessoas agressivas no que toca a determinado aspeto podem levar a sua agressividade para outros níveis, e podem até evoluir para uma posição cada vez mais violenta, causando cada vez mais danos.

Podemos assim concluir que, para além de não ser correta a legitimação da agressividade por parte do desporto (o desporto permite que a agressividade seja vista como legal, até certo ponto), isto pode levar a consequências bem mais graves para a sociedade como um todo, tornando-se um problema ainda mais grave e que merece uma profunda reflexão. É necessário perceber que algo tem que mudar. Tais ações por parte dos atletas devem ser punidas e, se chegarmos a tal ponto, levadas à justiça. Não existe qualquer razão válida para os atletas se agredirem uns aos outros durante uma partida; deste modo, a partir do momento em que a violência ultrapassa a barreira do tolerável e daquilo que é permitido pelo regulamento, devem ser aplicados estritos castigos e medidas de modo a garantir que tal situação não se repita. Deste modo, ao longo do tempo, talvez se consiga tornar o desporto uma atividade mais “pura”, transbordando de entusiasmo, e não de violência.


Nome: Bruno Miguel
Nº: 4
Turma: 12ºA
Colégio Nossa Senhora da Boavista
Psicologia B
2014/2015

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